Auto-Terapia Intensiva

Assim que ponho a cabeça no travesseiro um turbilhão de idéias vem me atormentar. As pessoas que conheci me assombram, os erros que cometi vêm puxar meu pé. Como ondas gigantes chegam ao consciente tudo aquilo que me transformou, e hoje me engole.
Preciso levantar!
Sentada na varanda de olhar fixo no chão dois andares abaixo, mirando os passos cansados do vigia da rua de um lado a outro, o desespero me toma por completo. Não consigo pausar meus pensamentos aleatórios: os amigos que trai; os amores que perdi por não saber me comprometer; as mentiras que contei, e as vezes que atuei por prazer; nas dívidas, nos filhos, no amanhã, que chega e teima em não chegar.
Abro a porta, saio no breu, adentro a noite sem rumo, sem ter onde parar, sem dinheiro no bolso sequer pra pegar o ônibus de volta se me cansar. Não consigo pensar nessas miudezas. Parece que alguém me sufoca, como se me imprensasse contra a parede e me tirasse o ar. A cidade dorme, e no entrar e sair de ruas de paralelepípedo me perco em vãos pensamentos, que me enlouquecem cada vez mais. Entro num universo paralelo íntimo, onde ninguém pode me encontrar, ninguém pode me salvar.
Minha cabeça pesa, dói, parece ter vida própria, luto contra esse outro alguém, esse meu "eu" hóspede, é como se me controlasse por completo.
AAAAAAHHHH!
Começo a correr, descalça e sem agasalho... uma corrida zumbi, sem sentido. De olhos vendados e mãos atadas corro contra e de encontro a mim. O sangue pulsa em minhas veias num ritmar descontínuo.
Não aguento mais.
Caio no chão e choro feito criança.
Em meio ás lágrimas o nó na garganta só se desfaz com um grito, um berro de liberdade ao pé da letra, imponente, como berro de dor de uma besta. As amarras se soltam, levo as mãos ao rosto, recuperando a noção, o fôlego.
Numa praça qualquer sento ao lado do escorregador e sinto vontade de viver mais um dia.

Nenhum comentário: