O Show Deve Continuar...

Uma eterna microfonia me atormenta os ouvidos nus
Quando o rufar no chimbal aberto imita um sininho a tilintar
As guitarras distorcidas completam a sinfonia desencontrada
E um sorriso sob sombras e refletores a descompassar

Nossos acordes não podem ser transcritos em partitura
O clássico se mistura ao pop, ao som de X sustenido menor
Uma balada disritmada pelo mixar de vinis quebrados
E uma voz que desentoa trêmula, sentindo a força do dó maior

Mas que mal há desafinar se a harmonia pede?
Se entre compassos marcados, encontro meu espaço em suas mãos?
Que mal há passear entre berros e falsetes
Se ao fechar dos olhos e tocar dos corpos silenciam-se os sons?

Nesse show de arranjos e melodias mal construídas
Sigo acomodada cantarolando estas notas desafinadas
Ensaio um sorriso e enceno frente ao público
Que te vê desperdiçar carinhos em um outro alguém

Perco a fala, perco o fôlego, ao não alcançar meu sol
E ao perder o tempo faço murchar a colcheia no intervalo cru
Sigo o som, e sinto a música nessa escala sem sentido
A emoção é demais, e a afinação fica para segundo plano
...assim como a dona da voz

Mixed Feelings

I don't care if you disaprove my manners
I don't understand why you wanna pose
I don't know how I once thought we could be
but the truth is that I could never really know.

Now we don't even speak to each other
Now I changed and we don't fit anymore
Now I feel that you don't accept the way I am
we can't go back to what it was before

So
I will go on with my life
Leaving all this fucked up shit behind.



texto de 17 de agosto de 2005

Roleta Russa

Porquê é tão difícil aceitar que querer não é poder, e que as horas que passam não voltam?
Fico invisível e passo a olhar tudo aquilo que nunca me pertenceu... ainda
O doce gosto de quase ter é o que faz embreagar e o cheiro forte da proximidade irrita
Ver e não pegar, desejar e não consumar, sentir o perfume de uma distância segura
A esperança persiste e forte, resiste, quando a tentação teima em chegar perto demais
A corda bamba, o tempo, a luxúria e o desejo de se entregar... Não!
Resisto e ao mesmo tempo me visto de vermelho pra te provocar nesse jogo de vai e não vem
As regras são quebradas, e as barreiras me fazem saborear o gosto semi-saudável da vitória
Enfim...

Auto-Terapia Intensiva

Assim que ponho a cabeça no travesseiro um turbilhão de idéias vem me atormentar. As pessoas que conheci me assombram, os erros que cometi vêm puxar meu pé. Como ondas gigantes chegam ao consciente tudo aquilo que me transformou, e hoje me engole.
Preciso levantar!
Sentada na varanda de olhar fixo no chão dois andares abaixo, mirando os passos cansados do vigia da rua de um lado a outro, o desespero me toma por completo. Não consigo pausar meus pensamentos aleatórios: os amigos que trai; os amores que perdi por não saber me comprometer; as mentiras que contei, e as vezes que atuei por prazer; nas dívidas, nos filhos, no amanhã, que chega e teima em não chegar.
Abro a porta, saio no breu, adentro a noite sem rumo, sem ter onde parar, sem dinheiro no bolso sequer pra pegar o ônibus de volta se me cansar. Não consigo pensar nessas miudezas. Parece que alguém me sufoca, como se me imprensasse contra a parede e me tirasse o ar. A cidade dorme, e no entrar e sair de ruas de paralelepípedo me perco em vãos pensamentos, que me enlouquecem cada vez mais. Entro num universo paralelo íntimo, onde ninguém pode me encontrar, ninguém pode me salvar.
Minha cabeça pesa, dói, parece ter vida própria, luto contra esse outro alguém, esse meu "eu" hóspede, é como se me controlasse por completo.
AAAAAAHHHH!
Começo a correr, descalça e sem agasalho... uma corrida zumbi, sem sentido. De olhos vendados e mãos atadas corro contra e de encontro a mim. O sangue pulsa em minhas veias num ritmar descontínuo.
Não aguento mais.
Caio no chão e choro feito criança.
Em meio ás lágrimas o nó na garganta só se desfaz com um grito, um berro de liberdade ao pé da letra, imponente, como berro de dor de uma besta. As amarras se soltam, levo as mãos ao rosto, recuperando a noção, o fôlego.
Numa praça qualquer sento ao lado do escorregador e sinto vontade de viver mais um dia.

Porto Santo

Meu amor de infância sonhos de criança tão distantes assim
Meu quinhão de liberdade será que foi verdade tudo aquilo que um dia vivi?
Onde era felicidade hoje reina o silêncio. Quando foi que te perdi?
Não restou nem amizade destes tempos inocentes, bondade, sal e sol
Te vejo tão calado, nossa história ficou é passado, e eu canto amor maior
Sou feliz e sigo em frente, te levando sempre em mente, o som a areia e o pó

Foi em frente ao mar, ao som do violão
O carteado, a bicicleta, a rede e o pé no chão
Milhões de gargalhadas, a bagunça organizada
O cais, o sentimento e coração.

Ainda te amo mais que tudo, e você que foi meu mundo, vou lembrar a cada luar. Coisas que não mudarão jamais.

Ato-Fato Magistral

As palavras fogem quando tento explicar como a ingenuiidade me irrita. A inocência verde não deixa compreender o funciona mento da máquina; aquilo que faz começar; O combustível é o sorriso fingidoe esconde dentes de piranha, que morde e arranca a pele branca e rosada do crente. Não vou tratar do mérito, é assim que se faz, assim que tradicionalmente acontece, por anos a fio. Por meios turvos, por debaixo do pano, por caminhos conhecidos de poucos, pela esperteza dossorrisos; enquanto às claras, nada se tem, senão a utopia do dever-ser.

Tiny Brick Road

De um lado flores vermelhas, e do outro névoa e inverno
E por essa passarela estreita caminha sem rumo.
Não há entradas para a direita, nem retorno para a esquerda,
Então segue em frente...
Sem cheirar as flores ou sentir frio.